Escândalo de supersalários motiva discurso de reflexão política do vereador Maurício Tutty
“Uma
coisa é certa: chegamos num ponto onde a independência parlamentar parece não
ser o caminho e vamos buscar uma liderança, para que possamos construir uma
história menos dolorosa”
Excepcionalmente
realizada na quinta-feira, tensão, expectativa e revolta eram os sentimentos
dominantes na segunda sessão ordinária de maio. A polêmica envolvendo os
médicos e os supersalários, que circulou na imprensa motivou discursos
inflamados. O vereador Maurício Tutty começou propondo uma reflexão sobre
política e vida, mas também deixou claro seu recado: o de indignação com
possíveis erros que possam ser irreparáveis.
“Eu
fico feliz pelo Poder Executivo e pela conquista em trazer mais uma vez uma
grande obra para nossa cidade, que é a Dique II. Parece que Agnaldo Perugini decidiu
buscar o impossível e está conseguindo. É assim que os homens públicos têm que
ser. Mas não podemos esquecer o essencial, abandonar o básico, o que é mais
substancial, que é atender a pessoa simples, o empreendedor ainda na fase
inicial de sua empresa, valorizar as ONGs, associações de bairro, movimentos
sociais; defender o elementar, o básico. Isso é o que garante nossa sobrevida, porque
somos homens e mulheres que poderemos, deveremos e seremos apenas pó para a
história”, ressaltou.
Ao
recordar o falecimento do ex-vereador Josias da Mota, Maurício Tutty pôs em
xeque a grandeza da vida política. “Assistimos pela primeira vez o velório de
um colega nessa Casa. Pudemos sentir como somos grandes como homens públicos,
mas, sobretudo, pequenos como homens comuns da Terra. Talvez, no último suspiro,
vamos entender o que foi nossa essência. E eu, nessa reflexão, entendo que temos
compromissos assumidos há anos, que precisam de atenção. Dedico minha vida a
fazer essa terra melhor. Essa cidade que meu pai escolheu, onde cheguei aos
quatro anos de idade. Não nasci aqui, mas sou cidadão pouso-alegrense. O titulo
poderia fazer diferença, mas não preciso. É onde escolhi para criar meus filhos,
viver com minha família, com meus amigos”, enfatizou.
Após
a divulgação dos altos vencimentos de médicos da rede municipal, boatos sobre o
salário do vereador também começaram a circular pela internet. Incrédulo,
Maurício Tutty emitiu uma nota em resposta e, em seu discurso, repudiou o
objeto do escândalo. “Tenho compromisso sério com a política. Independente do
que falam, insisto na minha luta, como fiz hoje. Eu não tenho supersalário,
como sendo notificado lastimavelmente no país inteiro e isso é uma vergonha,
porque enquanto nosso povo ganha salário mínimo nas fábricas, como pode alguém
que jurou defender a medicina, receber mais de R$ 70 mil?”, questionou.
Maurício
Tutty esclareceu que não há desvalorização do profissional e ainda expôs os
problemas que observa cotidianamente no setor da saúde. “Mas eu acho que eles
merecem, se fosse particular, se fosse dinheiro da iniciativa privado e não do
dinheiro público, porque, todos os dias, estamos assistindo as pessoas
reclamarem do serviço na saúde: é falta de remédio, de exame, toda hora outro
vereador denunciando na tribuna e, de repente, um milhão sendo pagos para um,
dois, três servidores. Isso sim merece nossa reflexão”, articulou, com o
plenário aturdido por seu discurso.
O
parlamentar também comentou sobre os requerimentos convocando o secretário de
Saúde para dar esclarecimentos na tribuna da Câmara. Maurício Tutty foi
categórico em sua opinião e sacudiu o próprio grupo. “Claro que o requerimento
trazido pelo Executivo sobre trazer o secretário aqui, é válido. Dr. Luiz tenho
muito respeito por você, mas o senhor já devia ter sido exonerado. Tenho
certeza que não foi o senhor que começou isso. Mas como é possível o secretário
de RH, de finanças, ninguém viu isso? Talvez o Prefeito não saiba disso. Talvez.
Porque se talvez ele soubesse, não deixasse”, ponderou.
O
vereador expôs sua indignação com as críticas que sofre por tornar públicas
suas preocupações e novamente deixou seus companheiros numa saia justa. “A motivação
que me fez pedir a CEI sobre a FUVS é a mesma que me move a respeito dos
milhões da Dique II, de onde a Copasa gastou, porque aquela obra está cheia de
falhas, mas eu não posso pedir uma CPI da Dique, do mesmo modo que eu não posso
dizer que o Yara vai inundar em época de cheias porque não se seguiu o projeto.
Se não tomarmos cuidado agora, vai acontecer. Eu não quero assistir essa
desgraça. Vamos ter responsabilidade. Mas, se o prefeito não exonerou o secretário,
deve ser porque há uma explicação, senhor líder do Prefeito. Será que existe?
Podemos dar o crédito e esperar? Ele conseguirá demonstrar para nós que o que
houve é justificável? Podemos dar essa oportunidade, porque o doutor é um homem
nobre. Será que povo de PA vai ficar satisfeito?”, questionou.
Para
encerrar, Maurício Tutty assegurou que vai apoiar uma investigação, desde que
esteja juridicamente organizada. “A saúde de PA não merece esses médicos que se
esconderam no juramento de que fizeram. Receberam esse salário milionário e
eles mesmos não denunciaram. Porque saiu da merenda escolar, saiu do transporte,
esse dinheiro saiu da educação, da própria saúde para enriquecer uns e outros.
Eu quero hoje dar mais uma chance ao Executivo, porque minha esperança é de que
o sonho não pode ter acabado, apenas com 10, 15 anos. Não pode ter sido isso
que construímos lá atrás. Quero ver a tranquilidade jurídica para votar o
pedido de CPI. “Uma coisa é certa: chegamos num ponto onde a independência
parlamentar parece não ser o caminho e vamos buscar uma liderança, para que
possamos construir uma história menos dolorosa”, encerrou.
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